terça-feira, 1 de junho de 2010

Você Personagem Eu Ninguém

Fico imaginando se você sabe da dor que eu sinto, fico imaginando se alguém sabe. Eu queria ser uma personagem que se apresenta ao público para me apresentar a você, queria que você me interpretasse, e assim entrasse a fundo na minha existência, buscando um sentido para cada palavra que eu dissesse. Queria que você se interessasse por mim como quem se interessa por uma personagem, me entendendo e criando a partir de mim, me dando vida, me presentificando no tempo e no espaço. Se eu fosse uma personagem você pensaria em mim constantemente, você me sentiria cada dia mais, você me leria até decorar todas as minhas palavras. Mas duvido que sendo eu assim do jeito que sou você tenha lido alguma dessas palavras que cá escrevo. Na verdade eu queria ser apenas uma personagem importante na sua história, eu acho. Não, importante eu sei que eu sou, mas queria ser do tipo que brilha, não do tipo que dá suporte. Chega de ser escada, quero ser ornamento. Pode rir, o sofrimento é ridículo mesmo. Ainda mais quando não há forma definida, pelo menos pra você, porque eu sei o que me faz triste. Mas fique tranquilo, você não é você, você é ninguém. Eu escrevo para ninguém, para que ninguém saiba da minha dor, para que ninguém se importe, para que ninguém me leia, para que ninguém me veja como eu sou, para que ninguém me coloque no colo. Escrevendo para você, para ninguém, eu tenho certeza que eu posso colocar todas as minhas intensidades sem culpa, ninguém aceita todo esse meu amor claustrofóbico e todo esse meu sofrimento que parece ser inerente. Mas até a relação aparentemente perfeita me faz desconfiar. Eu queria não ter que desconfiar de ninguém, eu queria acreditar, sem questionar, mas é difícil quando você não me ajuda. Desculpa, você não é ninguém.